Tasca do Coxo - O Post prometido

Como eu cumpro o que prometo, aqui estou a escrever o post sobre a Tasca do Coxo, esse estabelecimento de restauração que não tem sido devidamente valorizado pelo concelho da Batalha.

Chegados ao dito estabelecimento, toda eu sou alegria pois finalmente vou conhecer a famosa tasca. Rio-me por antecipação e ainda nem passei a entrada.
Entramos e somos muito bem recebidos pelo Ti Manel e a Ti Maria, casados e proprietários da tasca.
Vêem logo que eu não sou daquelas paragens e ficam contentes quando lhes confesso que estava desejosa de conhecer a tasca deles, ou o "Cantinho do coxo" como vem escrito num quadro bem emoldurado, que repousa na parede. Fico deliciada com a riqueza desta moldura que dá importância à folha com aqueles dizeres, num wordart básico, acompanhados de figuras do primeiro clipart (como a mítica cestinha com os pães a fumegar) e uma imagem do Mosteiro da Batalha.
O Ti Manel Coxo é mesmo coxo, ele viu-se obrigado a emigrar para Alemanha no tempo em que as vacas estavam magras em Portugal e gordas nos outros países (não mudou muito), à semelhança de muitos outros portugueses. Infelizmente, teve um acidente numa máquina qualquer e, incapacitado para trabalhar, voltou ao seu país. Era reinadio e gostava de servir vinho aos amigos, começou a vendê-lo e assim virou uma tasca.
   "Ó Ti Manel, arranja-se aí qualquer coisinha pra jantar? - pergunta o meu amigo.
Responde ele em voz alta e tom gingão:   "Queres, queres, mas tem que se assar, tem que se assar! Que é que pensas?"

Lá pedimos os grelhados mistos. Umas febras, uma morcela gorda e uma lentrisca rija tão rija que eu só pedia que não me esbarrassem os talheres e a carne fosse acertar mesmo na cabeça de algum dos poucos clientes. Mas assim é que se vê que é petisco natural! Um pacote de batatas fritas do Ecomarché e um "tomade de selada", assim ofereceu o Ti Manel.
Queremos bebidas? é levantar o rabo e ir buscá-las ao frigirífico. Por sorte não tivemos que pôr também a mesa, talvez porque a Ti Maria percebeu e quis que o jovem seu conterrãneo fizesse um brilharete aqui à menina.
Um vinho carrascão, naqueles jarros de barro tão típicos. Temos a certeza de estar em Portugal e, se restam duvidas, basta ler o que vem escrito na dita louça.


Comemos com tranquilidade e tempo e aproveito para observar uma ou outra cena:

Chegam uns clientes:
   "O Ti Maria, queremos jantar!"
Responde a boa senhora: "Olha, agora tou sentada! Vai lá tu ver à cozinha o que é que há e serve-te!"
E ele vai mesmo, com naturalidade.
Afinal, era o cunhado, disse-me o meu amigo, e o cunhado trouxe de lá um chouriço que colocou em cima da mesa. A Ti Maria não tem mais nada e bate no cunhado, por ter trazido aquilo assim sem prato, para cima da mesa.
Haja uma mulher pra manter a higiene e o respeito do local, até porque estão ali pessoas de fora.

Noutra ocasião, traz a Ti maria um prato de grelos para os outros clientes e ouve-se da cozinha berrar o Ti Manel:
   "Isso é pra mim, foda-se! Não é pra eles, é pra mim, foda-se!"

Toca o telemóvel do Ti Manel. É o "I've got a feeling". Até aqui esta musica passa...

Cafezinho da marca Camelo em copo de plástico. Soube-me bem melhor que qualquer outro daquelas maquinas mariconças de café que há agora.
Ao fazer a conta, o Ti Manel não precisa de maquinas registadoras ou outros, faz assim de cabeça e num instantinho:
 "Ora, foram azeitoninhas não é? E um jarrinho, foi só um jarrinho não é? e dois suminhos. Ah e o cafezinho, ora ora, ora doze euros tudo, fica assim."

Os donos da casa, cada um, vêm cumprimentar-nos à saída, desejando boa viagem à forasteira que ali caiu em graça.
Gente simples e simpática, e os melhores sabores da Estremadura. P'ra voltar!

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