"Meu querido Diário, hoje sinto-me extremamente infeliz e sozinha. Tive um dia bué de mau"
Isto eu escreveria se eu ainda tivesse 12 anos e debitasse as minhas mágoas para aquele diário de folhas azuis, rosas e lilases, a cheirar bem e com um ursinho na capa. Ursinho que com os seus oculos de sol e a prancha de surf e um sol radioso, parecia animar os meus dias mais chuvosos. Depois eu descreveria a situação toda, tim-tim por tim-tim, com relampagos devidamente desenhados nas palavras mais zangadas e, possivelmente, círculos à volta daqueles pingos que caíram, devidamente legendados, com setas a indicar "lágrima".
Como já tenho mais uns anos, já não choro e digo que tive um dia de merda, sem extremamentes nem bués, assim mesmo, merdoso de manhã à noite.
Lá fora protestavam na Avenida. Cartazes, faixas e bandeirolas. Posso também criar um cartaz a protestar do dia miserável que me foi concedido? E da semana também? Haverá alguém a apoiar esta causa?
Não me parece. Enfim.
Por este andar, amanhã a ver o B Fachada vou-me desmanchar em prantos, prostada no chão e talvez até a espernear.
Se alguém me vir neste estado não me estique a língua nem me dê uma injecção. Um gelado ali do Santini deve chegar para amainar.
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